quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Acabou Chorare

Meu pai fala que elogiar o disco Acabou Chorare dos Novos Baianos é como dar o Oscar pra Jack Nicholson, é chover no molhado... O disco lançado em 1972 foi eleito recentemente pela conceituada revista Rolling Stone o melhor disco da história da música brasileira, superando clássicos como o disco-manisfesto Tropicália, Chega de Saudade o divisor de águas da música lançado por João Gilberto e o fantátisco Tábua de Esmeralda de Jorge Ben. Mas por que esse disco deu tão certo?! Por que se tornou tão emblemático?! Precisamos lembrar que eles eram um grupo musico-teatral que se apresentava no Teatro Vila Velha em Salvador na segunda metade dos anos 60. A cultura hippie já havia chegado aqui e eles haviam absorvido essa cultura, além disso o Tropicalismo já havia eclodido e eles foram fortemente influenciados pelo movimento. Cairam na estrada e foram parar em São Paulo onde gravaram o primeiro disco, É Ferro na Boneca (1970) O virtuosismo de Pepeu Gomes, a musicalidade de Moraes Moreira, a poesia de Luiz Galvão, a presença de palco de Baby aliado ao traquejo vocal de Paulinho Boca de Cantor ficaram latentes naquele trabalho. Mas a sonoridade era rock e não poderia ser diferente, o rock era uma atitude naquele tempo e eles tinham o espírito do rock'n'roll, tinham... Até o dia em que eles, já morando numa cobertura no bairro de Botafogo no Rio, recebem a visita de João Gilberto, tudo iria mudar a partir dali. João com sua fantástica excentricidade mostrou a beleza do samba, dizendo para Os Novos Baianos que música não era só rock. Sob influência de João Gilberto, tetraidrocanabinol e alcalóides criaram uma maravilhosa alquimia que resultou no Acabou Chorare, inclusive a faixa-título é interpretada por Moraes Moreira que imita descaradamente o jeito cool de João Gilberto cantar. Era Tropicalismo, Rock'n'roll e Bossa Nova misturados por músicos de alta qualidade, não tinha como dar errado...

Chico, A Flecha


Chico, por seu temperamento forte e tendo a valentia como traço marcante, foi protagonista de uma das maiores guerras futebolísticas da história da Seleção Brasileira, ocorrido em 1946. Mas para entender a história, temos que voltar três meses antes.O início do fato que desencadeou a peleja internacional, ocorreu em 20 de dezembro de 1945, no estádio de São Januário,RJ. Era um Brasil x Argentina.Em campo o Brasil vence por 6 x 2. Mas além da goleada, o fato marcante foi a contusão do zagueiro argentino Batagliero, que fraturou a perna após choque com Ademir Menezes. Segundo a fonte do relato, Ademir na época com 20 anos, entrou no choque de maneira involuntária, e quem havia batido mesmo era Chico e Zezé Procópio, mais experientes e de estilo mais "chegador". Pois três meses depois, o Brasil vai disputar o Sul-americano em Buenos Aires. A final: Argentina e Brasil, no Monumental de Nuñez. A Argentina queria vingança e o clima era de guerra. Numa tentativa diplomática, o então chefe da delegação brasileira Ciro Aranha, leva Ademir pra visitar o zagueiro Batagliero, ainda em recuperação. Não adiantou muito.Já no estádio do River Plate, Chico recebeu o seguinte conselho de um argentino (diálogo publicado no site NetVasco):- É melhor não jogar. Nós vamos te matar.Chico, gaúcho valente e brigão, que nascera e se criara em Uruguaiana, na fronteira, respondeu com raiva:- Pois vão ter que me matar mesmo!Para acirrar ainda mais os ânimos platinos, Batagliero desfila em torno do gramado, numa maca, para inflamar torcedores e jogadores locais. A torcida dava o recado para o Brasil:-Mira!Mira! A partida começa nesse clima, e aos 28 minutos, o capitão argentino Salomon entra de carrinho em Jair, que levanta a perna, e a perna do jogador argentino choca-se contra a sola da chuteira de Jair. Salomon tem fratura dupla na tíbia e perônio (popular canela), e nunca mais se recuperou para o futebol.Tempo fecha e Jair tenta ir para o vestiário. O argentino Fonda parte para agredir Jair e Chico intervém na defesa de Jair. Chico é acertado pelas costas por Strembel, e nesse momento se vê cercado por argentinos. Segue brigando valentemente, soco e pontapés de todos os lados, até o máximo em que soldados argentinos de cavalos começam a bater com sabre em Chico, que se defende como pode no meio da turba argentina.Até que Mário Vianna consegue adentrar no tumulto, em meio a cavalos e jogadores, e tirar Chico dali, trazendo-o para o vestiário, por coragem e sorte, pois com a confusão mais de 500 torcedores argentinos estavam invadindo o campo. A polícia só conseguiu retirá-los com a utilização de bombas de gás.O Brasil não queria voltar a campo, mas o chefe da polícia local foi ao vestiário brasileiro e disse para que voltassem, pois em caso de cancelamento da partida ele não poderia garantir a segurança da equipe brasileira.O Brasil volta, mas não houve mais futebol. Chico estava expulso nesta altura. O Brasil perdeu por 2 x 0, e tiveram que se conformar com a derrota.Na volta ao Brasil, a delegação rumava ao Rio de Janeiro, enquanto Chico ia de trem para Uruguaiana, machucado, mas onde foi recebido pelos gaúchos de lá como herói de guerra, merecidamente.Fato interessante: Chico em sua carreira pela seleção brasileira, jogou 10 vezes contra a Argentina. Foi expulso em 9. Jogando pelo Vasco da Gama foi titular durante todo período daquele time chamado de Expresso da Vitória porque ganhava todos os títulos, inclusive de forma invicta o Campeonato Sulamericano de 1948 que foi a primeira Taça Libertadores da América. Faleceu em 1997 em decorrência de um infarto acontecido dias antes quando ele assistia um jogo do Vasco contra o River Plate.

O Galo seria uma boa


Acho que vou torcer pelo Atlético Mineiro nessa reta final de campeonato brasileiro. É um time bem armado pelo contestado Celso Roth e tem Diego Tardelli jogando muito (valendo até convocação de Dunga pra seleção). Outro fator que está pesando em minha decisão é a torcida do Galo, é um pessoal muito gente boa que já passou muita raiva por causa do apito de José de Assis "Aramengo" e José Roberto "Rato", vide a final do Brasileiro de 80 e o escandaloso jogo pela Libertadores de 81, ambos contra o "Framengo". Além do mais existe a antiga parceria com a torcida do Vasco que quando se encontram fazem a maior festa. Seria uma boa pro Galo, ele não ganha título brasileiro desde 1971 na época do folclórico Dario, o Dadá Maravilha... O time-base era esse aí da foto (em pé: Renato, Humberto Monteiro, Grapete, Vanderlei, Vantuir e Oldair. Agachados: Ronaldo, Humberto Ramos, Dario, Beto e Romeu). P.S. Mas se der Palmeiras, nossos parceiros e fregueses de São Paulo também tá tudo certo!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Zero por cento de umidade relativa do ar


Quando eu era mochileiro fui parar certa vez no norte do Chile. Mais precisamente em San Pedro de Atacama, uma vila que fica no Deserto de Atacama, simplesmente o lugar mais seco do mundo. No primeiro dia programei pra conhecer as Salares, que é uma salina com paisagens fora-de-série. Mas ao invés de ir de carro como todo mundo faz eu "inventei" de ir de bicicleta... Aluguei uma por dez dólares e com o mapa na mochila segui em frente, passei num kiosko que é uma espécie armazém deles para comprar água. Peguei uma garrafa 500 ml quando fui pagar o funcionário do armazém perguntou: - Donde vá?, eu com aquela segurança de um irresponsável respondi: - Salares! O chileno na maior tranquilidade disse: - Mejor llevar una botella de tres litros. Comecei a perceber que aquele negócio não ia dar certo... De Vila de San Pedro até as Salares são 55 km e eu decidi fazer uma caminho "alternativo" para economizar 8 km. Lá pelo quilometro trinta depois de não ter passado por uma alma viva encontro uma espécie de beduíno que catava sal no deserto para vender. Estranho é que não havia sal naquele período do ano naquela área, por uma questão de temporada o sal estava no outro lado, ao sul, e aquele cara caminhando no deserto, seria uma miragem...? Quando o cumprimentei ele foi dizendo: - No puede pasar! eu me assustei e retruquei: - Como no?? Ele assim responde: - Hay ejercicios de la fuerza aerea yendo aqui, necesita volver! Eu falei em bom português: Xiiiiiiiiiii! Olha onde eu ia amarrar meu jegue... O beduíno deve ter entendido já que riu do que eu falei. Dei meia volta e fui para a vila, cheguei no final da tarde. Devolvi a bicicleta e fui logo em seguida pro bar tomar uma cerveja pra matar a sede e comemorar ter encontrado aquela figura no meio do nada. * Na foto acima estou do campo de futebol da Vila de San Pedro de Atacama.

Radio Days - A Era do Rádio


A Era do Rádio (Radio Days)


Uma das obras primas do diretor norte americano Woody Allen rodado em 1983 retrata a Nova York dos anos 30 e 40. A influência do rádio nessa época era semelhante à da internet atualmente e da televisão nos anos 70 e 80. O filme conta a história de um garoto judeu, narrado por ele próprio (é clara a presença do alter ego do diretor) naquele período que coincidia com a segunda guerra mundial onde o rádio interferia o tempo todo na vida e no comportamento das pessoas. O garoto Joe conta experiências próprias e outras fictícias daquele período de ouro do rádio norte-americano. São retratados no filme desde os programas jornalísticos até as radio novelas, dos programas de auditórios aos programas de super-heróis, passando pelo programas de discussão de problemas de relacionamento semelhante aos que vemos hoje na TV às tardes... A trilha sonora é uma atração à parte, não só pelo fato de que (por questões óbvias) no rádio a imagem não era nada e a voz era tudo, mas porque cria um clima de nostalgia ao filme. Carmem Miranda era a grande artista daquele período e o Brasil começaria a ser conhecido pelo mundo através daquelas músicas. É com certeza um filme muito divertido, imprescindível para compreender o comportamento da sociedade daquela época e perceber que não é de hoje como a mídia influencia a vida das pessoas.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Yes We Can


Ok! We won, but, and now...?


O Rio venceu Madri na disputa pela cidade-sede das Olimpíadas de 2016 mas o que fazer a partir de agora? Numa disputa acirrada com a participação efetiva de líderes de estado fazendo lobbies fortíssimos o Brasil levou a melhor. Lulla que é de Caetés venceu Obama que é dali de Chicago mas tem um pezinho no Hawaii e outro no Quênia. Brasil 1 X 0 USA na semi-final. A final foi contra a Espanha representada por Madri, cidade dos merengues que tanto fornecemos craques de futebol (Didi, Vavá, Roberto Carlos, Ronaldo, Kaká...). Apuração: Brasil 66 X 32 Espanha. O lobby do Rei Juan Carlos não funcionou. Festa em Copacabana, festa "forçação de barra" da Globo em Manaus, Campo Grande, Salvador e mais meia dúzia de cidades que não tem nada a ver com o Rio nem com as Olimpíadas. A Globo tenta vender a imagem de que será um evento nacional e que haverá disputas esportivas em todo o país, é bom lembrar que Olimpíada não é Copa do Mundo... Mas agora vamos começar a falar sério: a quem interessa os Jogos Olímpicos serem realizados no Brasil? Um sorvete duas bolas para quem respondeu empreiteiras. Isso mesmo, em grandes eventos os maiores beneficiários são as empreiteiras, simples de explicar: nesses eventos existem grandes demandas por obras, desde parques esportivos até vilas olímpicas, por isso a turma do concreto faz a festa. As obras dos Jogos Panamericanos do Rio em 2007 foram superfaturadas e as contas reprovadas pelo Tribunal de Contas da União, imaginem o que vai para os jogos de 2016... Mas é hora de comemorar! Até o mendigo oficial aqui do Bairro Recreio comemorou a vitória...